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2.1.08

Um pouco de arqueologia

Mocidade, talento e belleza...

LILLIAN Roth, que hoje, depois de "Alvorada de Amor", todo mundo conhece, é uma das mais futurosas novatas do cinema falado... Ella começou, como tantas outras, fazendo uns números ligeiros, alguns "shorts" graciosos de dansa e canto. E esses primeiros passos abriram-lhe a estrada ampla da popularidade cinematographica, deram-lhe um nome bem depressa havia de andar na bocca de todos os conhecedores do cinema, cercado da mais viva admiração.

Lillian era já uma artistasinha de accentuados pendores, quando começou a apparecer em films, mas dahi para o papel que hoje representa na tela vae um verdadeiro abysmo, abysmo que ella vadeou com a sua graça, o seu talento, a sua mocidade admiráveis. Convém porém notar que a graciosa artista, além desses predicados de bem falar, bem dansar e bem cantar, possue ainda umas covinhas graciosíssimas, pouco acima das comissuras dos lábios, covinhas que têm sido a tentação de muita gente e que, para ella, foi um factor decisivo no caminho do triumpho, por incrível que pareça. E não ha espectador, por mais blassé que seja, que em vendo aquellas covinhas de Lillian não morra do desejo de se sepultar ali dentro um beijinho de amor...

Não pense o leitor que somos agentes de publicidade das covinhas de Lilian. Não, nada disso. É que também nós, que somos humanos e que vemos cinema, não pudemos fugir á attracção formidável daquelles adornos maravilhosos. Lillian Roth é muito jovem: tem apenas dezenove annos. Está no cinema por amor á arte, porque sempre desejou apparecer na tela e alimenta grandes esperanças de chegar um dia a ser uma figura famosa. Não se preoccupa muito com a idéa de casar. Diz que casará um dia, sem duvida alguma, se continuar a ser bonita como é agora e também se chegar a fazer fortuna. Com os dois elementos "belleza" e "dinheiro", tem certeza de que poderá um. dia escolher um noivo como bem lhe convier. Só não diz é como lhe convém o tal noivo...

Lillian teve em "Alvorada do Amor", aquelle grande film de Chevallier, o seu primeiro trabalho em film de grande metragem. Fazia ella a criadinha da rainha e teve como companheiro, nos seus bailados excêntricos, Lupino Lane, o famoso comico. E esse primeiro trabalho deu-lhe nome. A sua graça, a sua maneira de trabalhar, os seus dotes naturaes, a sua brejeirice e a sua agilidade, influiram decisivamente no espírito dos directores e também do publico, apontando-lhes logo a porta estreita da carreira no cinema. Tanto assim foi que, logo após, ella era chamada, pela Paramount para desempenhar papel importantissimo em “O Rei Vagabundo” e solicitada, por empréstimo, pela Metro Goldwyn Mayer, para apparecer em "Madame Satanaz", film que De Mille está dirigindo para aquella empreza.

Isto quer dizer que, dentro de muito pouco tempo, Lillian Roth será uma das estrellas da tela, uma das favoritas do publico. Isso ella deverá ao seu talento, é certo e também ás taes covinhas da face, aquellas covinhas que fazem a gente ter saudades de Dorothy Dalton, outra grande estrella que também tinha covinhas e que também era morena, como Lillian...

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Com meias ou sem meias?

"As pernas são por certo uma linda peça da anatomia feminina —mas com meias! Sem meias, não, pois são ellas que realçam a belleza das pernas! Perna sem meia, não tem belleza!"

Eis a opinião de Lawrence Schwab, um notavel productor de comedias e romances musicaes, que não hesita em proclamar que uma perna, no lindo estojo que a meia lhe offerece, é incomparavelmente mais attraente do que nua!

Tanto assim pensa elle que em todas as suas producções — "Follow Thru", "Queen High", "The New Mono", "The Desert Song" e "Good News" — elle sempre fez questão de que as "girls" não dispensassem as meias. As pernas nuas só foram permittidas, e isso mesmo sob protesto de Schwab, nas scenas em que se usavam costumes de sport.

"A meia offerece á perna um desenho nítido e distincto, revelando vantajosamente a forma e as curvas; na perna nua apagasse o desenho" — diz Schwab. "A maciez, o brilho da meia de seda, emprestam á perna rotundidade e contorno. Uma perna nua parece chata. A meia colhe da luz reflexos que arredondam a perna e lhe offerecem relevo. Um jarrete elegante acusa muito melhor a sua esbeltez quando coberto pela meia do que quando se mostra nu. Além disso, ás vezes ha na perna manchas que nenhum artificio, que nenhuma quantidade de pó consegue dissimular. As pernas queimadas do sol traduzem saúde, mas não dão impressão de belleza igual á que dá a perna, bem cingida na meia."

"Para prova suprema, basta mandar que uma linda moça mostre uma perna nua, e a outra velada pela meia. O contraste aponta immediatamente qual das duas pernas apparece mais attraente. A tal ponto assim é que, mesmo quando se pretenda o effeito de pernas tostadas pelo sol, é sempre preferível empregar meias com a cor de carne adequada".

Como se vê, Schwab disse as coisas claras, não esteve com meias... medidas!


Como se vê, a "crítica" de cinema no Brasil de meados do século passado estava atenta às covinhas de uma estrela ou da polêmica em torno de as atrizes usarem ou não meias em cena...
A coluna acima foi publicada na revista o Cruzeiro, em 2 de agosto de 1930, disputando a atenção dos leitores com a notícia da morte de João Pessoa.