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5.4.09

Musíca Deprê Brasileira

Dizia Vinícius que fazer samba não é contar piada. Sabemos que não é bem assim. Bezerra e Moreira da Silva estão, quer dizer, estavam aí pra provar.
Mas o ritmo que é logo associado a cerveja, feijoada e mulatas também tem seus momentos, digamos, blue.

Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor, pedia Nelson Cavaquinho.

A dor-de-cotovelo também foi cantada por Lupicínio Rodrigues:

Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nenhum pedaço do meu pode ser


Já em Paulinho da Viola (que por sinal gravou "Nervos de aço") é difícil achar uma letra que não fale em (des)ilusão, (des)engano e afins. É o caso da bela "Dança da solidão", que ficou mais conhecida na voz de Marisa Monte.
Uma que gosto muito é "Coisas do mundo, minha nêga". O eu-lírico é uma espécie de flaneur que interage com as pessoas e as situações por meio de sua viola e seus sambas, até que se depara com um homicídio:

Parei, olhei, fui-me embora
Ninguem compreenderia um samba naquela hora


Esse último verso é uma espécie de alfinetada em quem acredita que o samba só pode falar de alegria.
O compositor aqui-e-acolá gosta de associar música/instrumento a sentimento, como em "Guardei minha viola":

Minha viola vai pro fundo do baú
Não haverá mais ilusão


Não é à toa que Paulinho é da Viola.

Agora triste mesmo é "O mar", de Caymmi (Não confundir com "É doce morrer no mar", uma variação sobre o mesma tema). Com o violãozinho arrastado e a voz lamentosa do finado, é impossível não se sensibilizar com o caso do pescador jovem e bonito que saiu pra lida e não voltou, deixando a pobre viúva literalmente doida de saudades.
É bonito demais.