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16.12.11

Raul - o início, o filme e o meio

Um músico que tocou com Raul declara: "Ele virou outra pessoa depois que ficou famoso. Começou a interpretar o personagem Raul Seixas, que criaram pra ele". Não foi com essas palavras, mas a ideia é essa.

O que Walter Carvalho e seus codiretores fazem no filme é botar os entrevistados para atuarem. Uma se joga na piscina, Paulo Coelho pratica tiro ao alvo. Atitudes que aparentemente nada tem a acrescentar sobre o personagem do longa. Mas a (grande) sacada é: "eu estou aqui para falar sobre Raul Seixas mas eu não sou uma mera fonte, sou um personagem."

Dos seus três documentários em longa-metragem de sua filmografia, "Janelas da Alma", "Moacyr- Arte Bruta" e agora "O início", apenas o segundo este paraibano que ficou grande demais para a direção de fotografia realizou sozinho. Não por coincidência, é o menos interessante deles. "Raul" é codirigido pelo experiente Evaldo Mocarzel. E a ficção "Cazuza", aquele com Daniel Oliveira, também é uma parceria, com Sandra Werneck.

Bom, como já ressaltei, o filme além de explorar muitíssimo bem o megacarismático roqueiro baiano, tem o mérito de fazer dos depoentes personagens. Destarte, surge no ecrã um Paulo Coelho como nunca visto na história do documentário brasileiro. Simpático, divertido. A ponto de ser aplaudido durante a sessão, no FestAruanda.

Talvez o único problema do filme seja o regabofe exagerado. É dado tempo e destaque excessivos a celebridades como Bial, Caetano e o supracitado mago. Se bem que a favor deste pesa o fato de ele ter sido parceiro do maluco beleza... Mas mesmo assim.

Ou talvez eu que esteja sendo cri cri. Afinal são duas horas de filme, que absolutamente voam.

Um dos melhores documentários brasileiros sobre música que já vi, sem dúvida alguma.

P.S. Li um comentário de um idiota no Youtube que diz: "Ah, seria melhor se fizessem um filme sobre ele em vez de um documentário (sic)". Não, meu chapa, não seria nem fodendo. Seria melhor, isso sim, se Walter tivesse realizado um documentário sobre Cazuza ao invés de uma ficção.

24.9.11

Os quatro problemas de "Viajo porque preciso, volto porque te amo"

1) Semidocumental, os diretores resolvem explorar uma romaria a Juazeiro do Norte. A ideia é mostrar ao resto do Brasil e ao mundo a fé do sertanejo com crítica social: ainda se viaja de pau-de-arara. O problema é o pretexto pra incluir isso no roteiro: o protagonista José Renato (Irandhir Santos) desabafa que "precisa ver gente".

2) O segundo é ao mesmo tempo uma decorrência e uma repetição do primeiro. Sai Juazeiro, entra Caruaru. Mais uma vez a desculpa soa forçada: "Queria me perder no meio daquela feira". A intenção do filme foi aproveitar os ícones do interior nordestino: a fé no Padre Cícero, a Feira de Caruaru e o rio São Francisco, que aparece mais pro fim da história.

3) José Renato, em plena dor-de-cotovelo, tem um pesadelo em que sofre uma cirurgia craniana, e de dentro da sua cabeça saem partes do corpo da mulher amada... Obviedade que beira o mau gosto. Castigo: assistir David Lynch.

4) Saindo do roteiro pra direção, achei a narração pouco natural em alguns momentos. No caso do pesadelo, que já comentei, o relato sai sem pausas, pouco comum em quem rememora um sonho.

Mas eu só falei dos problemas porque sou do contra. O filme é belíssimo, como tudo que a dupla Karim Ainouz-Marcelo Gomes já fez.

12.8.11

Em "O crocodilo" Vinícius prova que um filho é pior que o assustador réptil. Esta última estrofe é perfeita:

O filho é um monstro. E uma vos digo
Ainda por píssico me tomem:
Nunca verei um crocodilo
Chorando lágrimas de homem.

11.7.11

Cilada!

Piadas sem graça - pra dar uma ideia, há um personagem chamado "Marconha" e um comodismo machista que surpreende quem espera um humor um pouco mais ousado vindo de alguém tido como cool, caso de Bruno Mazzeo, definem Cilada.com.

De tanto insistir, o longa até faz rir em alguns momentos, até porque conta com atores engraçados, como Serjão Loroza. Mas o mau gosto predomina, além da fraqueza dos protagonistas enquanto personagens, o que explica por que a obra fracassa como "romântica" ainda mais do que como "comédia".

Abandonado pela namorada, Bruno se esforça mais pra melhorar sua reputação depois que um vídeo queimação vaza no Youtube, do que pra voltar com a amada. Esta, por sua vez, ao saber-se traída tem a reação de postar o tal vídeo como vingança. Eis a heroína da história.

Paralelamente à tentativa de reverter a fama de ejaculador precoce(!), o galã(?) tenta ficar com um monte de gente, o que dá a entender que só porque não consegue é que acaba se esforçando pra retomar o namoro com Fernanda (Paes Leme). Pergunto: e se fosse o contrário? E se a metade feminina do par fosse a galinha, ainda seria perdoada (pelo público, inclusive)?