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27.4.17

De início, E agora, aonde vamos? parece ser só um filme divertido, leve, saudosista, despretensioso. Mas, quando você percebe, ele se torna pesado. É um filme político também, "empoderador", para usar um termo da moda, ao mostrar que a vida das mulheres é sofrerem por causa dos homens e impedirem que eles façam bobagens (como se matarem). Refletir sobre duas questões centrais no nosso e em todos os tempos, a guerra e a religião, pelo olhar feminino de Nadine Labaki, é o grande apelo do filme.

É problemático que, por exemplo, a visão de um povo de "alma guerreira" seja positiva em nossa sociedade. Somos educados a pensar que a guerra (as armas, de modo geral) só são usadas para se defender. Mas, como o filme é muito feliz em demonstrar, é muito fácil, se quisermos, encontrar inimigos e ameaças. Até o que poderia ser um problema técnico do longa, que são as cenas de brigas que não convencem, se justificam: pra que uma briga bonita num filme pacifista?

Já quanto à forma como o filme aborda a religião fiquei com um pezinho atrás. A impressão é de que o lado positivo dela é exacerbado. Tanto que, num filme que mete o pau nos homens, pintando-os o tempo todo de bobos, os sacerdotes são poupados. O filme fica meio gospel às vezes. Mas talvez isso seja o lado ateu falando.

A impressão de filme-tese é reforçada, a meu ver, pela escolha de um local indefinido para a história ("uma aldeia entre o céu e a terra"). E a tese é esta: só as mulheres podem nos libertar dessas coisas estúpidas que os homens inventaram e ainda sentem orgulho de ostentar: arma, guerra, violência, intolerância. A elas - as moças - toda honra e toda glória.