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12.6.08

O sonho de ser Dostoievsky

(Atenção: meio spoiler)

O sonho de Cassandra é bastante parecido com Match Point. Além de se passar em Londres, é em "Crime e Castigo" mais uma vez que Woody Allen vai beber. Outras referências caras ao cineasta estão presentes, como a tragédia grega e os questionamentos filosóficos, religiosos e sobretudo morais.

A carga trágica da trama não está em fatores externos aos protagonistas, mas nasce de suas próprias consciências. A dupla em questão é vivida por Colin Farrell, ótimo como o irmão dilacerado por vários vícios e Ewan McGregor, competente como sempre (e que andava sumido), encarnando o lado cerebral e frio do par. Sua atuação lembra a de Jonathan Rhys Meyers, que faz o personagem principal de Match Point.

Diferentes no temperamento, os irmãos têm fraquezas também distintas. Um encontra-se com uma dívida de jogo, o outro deseja manter um padrão de vida que não corresponde à sua conta bancária.

Necessidades diferentes que levam a um crime em comum. Porém, na ressaca do delito o contraste entre os temperamentos dos dois volta à tona, o que leva à tragédia...

Pra finalizar, mais uma coincidência: em Match Point, o mote da história é comparado a uma partida de tênis. Aqui, mais uma vez há uma metáfora esportiva: o pôquer.

3.6.08

É a vida. E nem sempre é bonita.

Fui numa palestra com Marçal Aquino e ele citou "Onde os fracos não têm vez" entre os bons filmes que viu recentemamente. "O xerife acorda e enquanto toma café conta à mulher sobre o que sonhou à noite. O filme acaba assim porque a vida é assim."
Eu não tinha visto o filme ainda. Soube que meu cunhado baixou e lhe pedi uma cópia. Ele ficou surpreso ao saber que gostei. "É muito sem sal!"
Fiquei me perguntando por que um filme que tem chacinas, perseguições, psicopata e o escambau pode ser considerado sem sal. É a não-espetacularização. O filme é seco. Não tem música de suspense avisando que um ataque ou acidente se aproxima. Aliás, a batida que rola no final do filme, nas maõs de um John Woo ou um diretor de ação que goste de muito sal, seria filmada com trezentas câmeras, slow motion etc. e duraria minutos, com direito a closes de rostos horrorizados. Não é assim com os Coen. Como não é assim com Spike Jonze, por exemplo.
Já do final foi meu pai que reclamou. "Que porra é essa que o bandido não é preso e nem morre?" A vida é assim. E tem gente, muita gente, que não quer ver vida. A ficção com sal seria uma compensação pra uma vida insossa..?

Eu estranhei a falta de humor no filme, diferentemente do que vi em Fargo e O grande Lebowski, os outros dois que vi da dupla. Me lembou Almodóvar, que tem feito um cinema cada vez mais sisudo.