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11.4.08

Depois de anos afastado da ficção, Nelson Pereira dos Santos retorna com Brasília 18%. E bem que podia ter permanecido no limbo, já que o filme é uma bela nulidade.
Misturando crítica social e trama policial, o longa não oferece nada que não já tenha sido explorado antes. Pra não sair da capital federal, temos "Doces Poderes", de Lucia Murat, mais ousado e lançado nove anos antes.
Formalmente, o veterano cineasta opta sempre pelo quadro mais convencional. A fotografia está mais pra TV do que pra cinema, o que, somado aos diálogos e atuações teatrais, dá uma sensação de se estar assistindo a um telefilme dos anos 80.
Diretor de 'Vidas Secas', Nelson parece não ter mais o que oferecer. Brasília 18% é um filme perdido em algum lugar entre o Cinema Novo e o cinema realizado hoje por um grupo (cada vez maior) de artistas que entendem o seu tempo e assim tem realizado bons filmes.

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Eu não estou lembrado de uma performance de uma atriz que tenha me impressionado mais do a de Meryl Streep em As Pontes de Madison. Par de Clint Eastwood (também diretor), não parece que eles tiveram que decorar um texto tamanha a verdade que é passada em cena. < Tá, isso foi clichê, eu sei.
Clint dosa com perfeição a evolução dramática em cada seqüência. Isso significa ver a excitação virar constrangimento; alegria se tornar vergonha e por aí vai. O que não seria tão bem-sucedido com outra atriz, tenho certeza.
O que Eastwood faz no filme é basicamente isso: dirigir Meryl Streep, ter esse timing no controle das emoções e completar a receita com montagem e música adequadas, sem apelar. Esse melodrama que não chega a ser piegas eu já tinha observado em 'Menina de Ouro'. Mas é 'Madison' que se tornou o meu preferido de do diretor, ao lado de 'Os imperdoáveis'.

9.4.08

Tirando do sério

Não vou me demorar recomendando o CQC – Custe o Que Custar, que estreou há algumas semanas na Band, até porque o projeto, encabeçado por Marcelo "Ernesto Varela" Tas caiu na boca do povo, rendeu alguns hits no YouTube e até elogiado na Veja...
Só digo que o programa é bom e que vocês deveriam assistir, pelo menos uma vez. Passa nas segundas (espertamente começa assim que acaba a novela das 8 - da Globo) e rola um compacto às quartas, após o futebol.
No programa desta semana comecei a perceber os primeiros problemas, um pouco pela produção já demonstrar falta de fôlego e também pelo fato de a edição gaiata e frenética não me hipnotizar mais com a mesma eficácia.
A forma e o método de abordar dos repórteres-humoristas, além da já citada edição, fazem o telespectador menos atento não reparar na fragilidade da tese que eles queiram defender.
Nesta última edição, um deles acompanhou Silvio Pereira no que deveria ser um dia de trabalho comunitário a ser prestado pelo ex-secretário do PT, aquele que ganhou um jipe importado. A "matéria", analisando friamente, consistiu em mostrar o repórter seguindo o cara de carro e a sua determinação em presenteá-lo com um jipe de brinquedo. Não há como saber com certeza se a pena foi cumprida ou se foi mesmo burlada, como a edição deu a entender.
Quando é menos despretensioso, a atração rende momentos absurdamente engraçados. Assim como o Pânico, eles extraem situações cômicas botando celebridades em situações inesperadas e algumas vezes constrangedoras. Pra mim o melhor quadro é o "Repórter inexperiente", em que o sujeito se passa por um jornalista de TV do interior, em início de carreira, testando a paciência dos entrevistados famosos, que vão de Gretchen a Roberto Cabrini, passando por Padre Marcelo.
CQC é ainda prestação de serviço. Denuncia e cobra solução para os problemas nos serviços públicos. Cabe à audiência julgar se isso vai resultar em melhorias na prática ou se não passa de um artifício sensacionalista.
O programa é inovador, ágil e conta com um elenco na média talentoso, sem dúvida. Entretém e faz rir. É bem mais do que se poderia esperar da Band. Mas aquilo não pode (ou pelo menos não deveria) ser considerado jornalismo. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.