Depois de ver e de ficar encantado com as qualidades de “O Filho da Noiva”, me lembrei de um artigo de Jean-Claude Bernardet, publicado na Revista de Cinema, intitulado “Os argentinos dão um banho nos brasileiros”. O autor cita que o cinema atual do país vizinho tem uma “produção média viva e inteligente”. Da produção média eu não posso falar porque não vejo muita coisa, mas que é difícil encontrar um filme brasileiro à altura de O filho da Noiva, isso é.
Diz Jean-Claude: “Não há necessidade de longas explicações para justificar as ações dos personagens. Breves anotações, como a expressão facial de um personagem, permitem acompanhar fluentemente a ação, compreender, e se emocionar com o quadro afetivo dos personagens e as relações entre eles, sem demora”. Ele está falando de “Esperando o Messias”, mas poderia estar se referindo a “O Filho da Noiva”, ou a “Uma Noite com Sabrina Love”... Nesses filmes, mesmo os personagens menores, que não aparecem mais do que em duas ou três cenas, têm luz própria. Um gesto, uma expressão e você já compreende as motivações, os problemas e a personalidade desses personagens. Tomando emprestado uma frase do argentino Julio Cortazar, são filmes que têm a misteriosa propriedade de irradiar algo para além de si mesmos.
Eu não sinto isso em "Nove Rainhas", onde a ênfase numa reviravolta mirabolante tira o sabor da verossimilhança de seus personagens.
Pelo pouco que conheço da produção dos argentinos, de hoje e de ontem, não me arrisco a dizer se eles são melhores ou piores do que nós. Mas o fato é que as cinematografias são visivelmente diferentes, já que as culturas são tão diferentes. Pra mim, isso se dá por duas questões principais: a tradição e as escolhas que resultam dessa tradição.
O Brasil é África, música, carnaval. A Argentina é um país de leitores, de grandes literatos, europeizado. Já ouviram falar que Buenos Aires tem mais livrarias do que no Brasil inteiro? Pois é.
O cinema brasileiro moderno, de “Rio 40 graus” pra cá, é um cinema que preocupado com o Brasil, que quer entender que povo é esse, que se volta e revolta para sua história, que tem urgência de questionar a dependência e o subdesenvolvimento. Essa matriz se enfraquece a partir dos anos 80, mesmo assim o fantasma Glauber Rocha, para o bem e para o mal, continua bem vivo.
Já o argentino, parece-me, é mais centrado no ser humano. Nesse sentido, eles fazem filmes ao mesmo tempo egoístas e universais. É um cinema mais ligado à literatura, enquanto nosso cinema preferiu se casar com as ciências sociais.
31.12.06
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
gostei muito do seu bloguinho!
vou voltar outras vezes.
tu soube q o diretor de 9 rainhas, q eu acho muito bom, morreu aqui no Brasil de infarte agudo do miocárdio?
Postar um comentário