Uma bela surpresa A Casa de Alice. Eu nunca tinha ouvido falar do filme quando vi que ele tinha entrado em cartaz. Elenco desconhecido, diretor mais ainda. Comprei o ingresso ciente de que poderia esperar qualquer coisa. E podem acreditar que foram quatro reais bem gastos.
Logo de cara a boa impressão causada pelo fato de a protagonista ser uma dona-de-casa quarentona, mãe de três filhos, moradora de São Paulo, manicure. Uma pessoa incomum; um personagem incomum.
Alice é o centro de uma família que se esforça para manter a pose de que tudo vai bem. "Lá em casa não tem problema nem de grana nem de cama", ela diz a uma cliente. A harmonia é só aparente. A sujeira pode ser empurrada pra debaixo do tapete, mas ela existe e todos sabem disso.
À menor crise, todos jogam na cara uns dos outros os seus "podres". E todos têm teto de vidro. Ou melhor, o filme poupa a avó e o filho mais novo. Como se quisesse focar o seu pessimismo na atual geração, isentando a anterior e demonstrando esperança no futuro. Ainda dá pra salvar a próxima geração. Porque a atual...
Chico Teixeira acredita que os problemas do país vão além da guerra entre polícia e traficante, da criminalidade, da violência urbana - como os meios de comunicação (cinema inclusive) fazem parecer.
Na TV temos o seriado 'A grande família', metonímia dos lares brasileiros, em que apesar do que há de errado no país, no fim tudo é contornado e todos ficam felizes graças à cordialidade e à solidez da instituição familiar. 'A Casa de Alice' é o Lado B dessa história. A base da sociedade é também a base da problemática social urbana.
A ingratidão, as mentiras, os pequenos furtos nascem e crescem livres no seio de um lar dilacerado e daí vai pra sociedade. Mas é somente quando sai de casa que o problema é mostrado na TV e surge a falsa impressão de que o problema é superficial, podendo ser resolvido com, digamos, pena de morte e redução da maioridade penal.
Eis a mensagem de 'A Casa de Alice': o pior do Brasil é o brasileiro.
21.2.08
8.2.08
Para corações de manteiga
Aviso: Spoiler
A sensação que tive de Juno é que ele não cumpre o promete. Quando você nota um esforço pra mostrar um casal de adolescentes que não é um jogador de futebol e uma líder de torcida ou um nerd e uma patricinha, dois personagens que parecem pessoas e não arquétipos, cria-se a expectativa de uma resolução que não seja tão careta...
Abordar o tema da gravidez precoce dá uma mera ilusão de transgressão. Juno, a protagonista, passa a se envolver com o pai adotivo de seu futuro bebê, o que não passa de um artifício pro espectador ficar esperando que role algo a mais. O que seria natural, já que Mark está deixando a esposa, tem gostos em comum com Juno e mostra interesse por ela. Já Paulie (mau personagem, bom ator), o pai do bebê, é tímido, quase idiota, nada atraente e que em nenhum momento é mostrado como um bom partido - o que só reforça a expectativa que a moça irá ficar com Mark.
No final, Juno faz uma pergunta deveras original ao seu pai: - É possível ficar com a mesma pessoa pela vida toda?
A resposta é melhor ainda: - Filha, você deve ficar com quem gosta de você do jeito que você é.
E de repente ela descobre que Paulie, que, o mesmo que passa o dia correndo e comendo tic-tac de laranja, e que ainda lhe dera um fora, é o homem de sua vida.
É como se o filme tivesse um final qualquer menos cor de rosa, mas aí alguém cochichou: - ei, mude isso aí que eu lhe consigo uma indicação ao Oscar. Uma adolescente de 16 anos ficar com um cara com o dobra da idade seria revolucionário demais.
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