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21.2.08

Pessimismo necessário

Uma bela surpresa A Casa de Alice. Eu nunca tinha ouvido falar do filme quando vi que ele tinha entrado em cartaz. Elenco desconhecido, diretor mais ainda. Comprei o ingresso ciente de que poderia esperar qualquer coisa. E podem acreditar que foram quatro reais bem gastos.
Logo de cara a boa impressão causada pelo fato de a protagonista ser uma dona-de-casa quarentona, mãe de três filhos, moradora de São Paulo, manicure. Uma pessoa incomum; um personagem incomum.
Alice é o centro de uma família que se esforça para manter a pose de que tudo vai bem. "Lá em casa não tem problema nem de grana nem de cama", ela diz a uma cliente. A harmonia é só aparente. A sujeira pode ser empurrada pra debaixo do tapete, mas ela existe e todos sabem disso.
À menor crise, todos jogam na cara uns dos outros os seus "podres". E todos têm teto de vidro. Ou melhor, o filme poupa a avó e o filho mais novo. Como se quisesse focar o seu pessimismo na atual geração, isentando a anterior e demonstrando esperança no futuro. Ainda dá pra salvar a próxima geração. Porque a atual...
Chico Teixeira acredita que os problemas do país vão além da guerra entre polícia e traficante, da criminalidade, da violência urbana - como os meios de comunicação (cinema inclusive) fazem parecer.
Na TV temos o seriado 'A grande família', metonímia dos lares brasileiros, em que apesar do que há de errado no país, no fim tudo é contornado e todos ficam felizes graças à cordialidade e à solidez da instituição familiar. 'A Casa de Alice' é o Lado B dessa história. A base da sociedade é também a base da problemática social urbana.
A ingratidão, as mentiras, os pequenos furtos nascem e crescem livres no seio de um lar dilacerado e daí vai pra sociedade. Mas é somente quando sai de casa que o problema é mostrado na TV e surge a falsa impressão de que o problema é superficial, podendo ser resolvido com, digamos, pena de morte e redução da maioridade penal.
Eis a mensagem de 'A Casa de Alice': o pior do Brasil é o brasileiro.

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