Dizia Vinícius que fazer samba não é contar piada. Sabemos que não é bem assim. Bezerra e Moreira da Silva estão, quer dizer, estavam aí pra provar.
Mas o ritmo que é logo associado a cerveja, feijoada e mulatas também tem seus momentos, digamos, blue.
Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor, pedia Nelson Cavaquinho.
A dor-de-cotovelo também foi cantada por Lupicínio Rodrigues:
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor
E por ele quase morrer
E depois encontrá-lo em um braço
Que nenhum pedaço do meu pode ser
Já em Paulinho da Viola (que por sinal gravou "Nervos de aço") é difícil achar uma letra que não fale em (des)ilusão, (des)engano e afins. É o caso da bela "Dança da solidão", que ficou mais conhecida na voz de Marisa Monte.
Uma que gosto muito é "Coisas do mundo, minha nêga". O eu-lírico é uma espécie de flaneur que interage com as pessoas e as situações por meio de sua viola e seus sambas, até que se depara com um homicídio:
Parei, olhei, fui-me embora
Ninguem compreenderia um samba naquela hora
Esse último verso é uma espécie de alfinetada em quem acredita que o samba só pode falar de alegria.
O compositor aqui-e-acolá gosta de associar música/instrumento a sentimento, como em "Guardei minha viola":
Minha viola vai pro fundo do baú
Não haverá mais ilusão
Não é à toa que Paulinho é da Viola.
Agora triste mesmo é "O mar", de Caymmi (Não confundir com "É doce morrer no mar", uma variação sobre o mesma tema). Com o violãozinho arrastado e a voz lamentosa do finado, é impossível não se sensibilizar com o caso do pescador jovem e bonito que saiu pra lida e não voltou, deixando a pobre viúva literalmente doida de saudades.
É bonito demais.
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4 comentários:
falou marisa, lembrei "de mais ninguém" :~
bonito demais é esse post :)
tão gostoso de se ler... acho que um dos seus melhores (talvez aqui esteja uma injustiça, pois não li todos ainda)
sambar eu não sei se você samba...
mas no quesito harmonia, não tem pra mais ninguém :D
cacete!
nem acredito que esse texto é teu. tua anda melancólico ultimamente, hein?
belo texto, escrito com maestria. tem um compasso ritmado, como o samba.
menino... eu ia comentar faz dias, já. perdi o fio da meada, mas vim só pra dizer que samba é o ritmo mais incrível que há. pra ouvir, pra chorar, pra soltar a voz, pra dançar até furar a sandália... então sim. gostei sim (e é espantoso mesmo, visse, aílton)
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