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14.11.09

O teórico húngaro Ference Fehér é o autor de "O romance está morrendo?".

Não estranhe o título apocalíptico, ele não está sozinho.

Muita gente diz que o romance é um gênero superado, moldado em Cervantes, aprimorado entre as revoluções industriais e esgotado em Joyce e Kafka.

Na minha humilíssima opinião, dizer que o romance já deu o que tinha que dar é tão descabido quanto afirmar que a História acabou junto com o Muro de Berlim.

Porém, eu já acho que o conto envelheceu melhor que seu primo maior. Por mais incensados que sejam os contos de Machado de Assis, Lima Barreto, Poe, etc., eu sinto muito mais prazer nas experiências mais modernas de Cortázar, Rubem Fonseca e vários outros.

Aqueles mestres deram o pontapé inicial, mas o conto progrediu muito e soube, sim, se adaptar melhor que o romance, o qual tem como habitat natural a sociedade burguesa do século XIX (nisso concordam 100% dos críticos). E de fato, eu não conheço nenhum romance recente que sirva pra amarrar os sapatos de Dom Casmurro.

7.11.09




"Felicidade é pouco, o que eu desejo ainda não tem nome." A frase atribuída a Clarice Lispector pode ser vista em perfis de Orkut de um monte de adolescentes e algumas moças mais maduras.

Agora tente imaginar, quantas, entre elas, já pegaram em algum livro de Clarice na vida.

Algumas até tentam. Minha sobrinha, por exemplo, pediu pra eu pegar pra ela algum romance dela na biblioteca. Peguei. E, segundo ela própria, não conseguiu ler nem dez páginas.

Rafaela, assim como todo adolescente, está acostumado com Stephenie Meyer e sua prosa afiada - no que se refere aos dentes dos personagens. Tudo bem, melhor que nada. Mas são livros (imagino) com histórias de amor, bastante ação, e que vão direto ao ponto, sem perder tempo com arrodeios.

Aí a pobre vê a fama que Clarice Lispector tem entre internautas posers e pensa: - opa, isso deve ser bom. Sem imaginar que a autora não é nada fácil. Sua narrativa jamais vai direto ao ponto, e a graça está não nos fatos, mas nos arrodeios. Pra ser mais técnico, nas descrições poéticas. São dezenas de páginas de um delicioso porém assustador rame-rame. Há que ter paciência e, vá lá, algum chão como leitor.

Clarice se tornou cult, em grande parte, justamente por ser difícil. Passar a ideia de que se gosta de uma escritora hermética dá status.

Em tempo: peguei o enjeitado A maçã no escuro e é bom.