Um músico que tocou com Raul declara: "Ele virou outra pessoa depois que ficou famoso. Começou a interpretar o personagem Raul Seixas, que criaram pra ele". Não foi com essas palavras, mas a ideia é essa.
O que Walter Carvalho e seus codiretores fazem no filme é botar os entrevistados para atuarem. Uma se joga na piscina, Paulo Coelho pratica tiro ao alvo. Atitudes que aparentemente nada tem a acrescentar sobre o personagem do longa. Mas a (grande) sacada é: "eu estou aqui para falar sobre Raul Seixas mas eu não sou uma mera fonte, sou um personagem."
Dos seus três documentários em longa-metragem de sua filmografia, "Janelas da Alma", "Moacyr- Arte Bruta" e agora "O início", apenas o segundo este paraibano que ficou grande demais para a direção de fotografia realizou sozinho. Não por coincidência, é o menos interessante deles. "Raul" é codirigido pelo experiente Evaldo Mocarzel. E a ficção "Cazuza", aquele com Daniel Oliveira, também é uma parceria, com Sandra Werneck.
Bom, como já ressaltei, o filme além de explorar muitíssimo bem o megacarismático roqueiro baiano, tem o mérito de fazer dos depoentes personagens. Destarte, surge no ecrã um Paulo Coelho como nunca visto na história do documentário brasileiro. Simpático, divertido. A ponto de ser aplaudido durante a sessão, no FestAruanda.
Talvez o único problema do filme seja o regabofe exagerado. É dado tempo e destaque excessivos a celebridades como Bial, Caetano e o supracitado mago. Se bem que a favor deste pesa o fato de ele ter sido parceiro do maluco beleza... Mas mesmo assim.
Ou talvez eu que esteja sendo cri cri. Afinal são duas horas de filme, que absolutamente voam.
Um dos melhores documentários brasileiros sobre música que já vi, sem dúvida alguma.
P.S. Li um comentário de um idiota no Youtube que diz: "Ah, seria melhor se fizessem um filme sobre ele em vez de um documentário (sic)". Não, meu chapa, não seria nem fodendo. Seria melhor, isso sim, se Walter tivesse realizado um documentário sobre Cazuza ao invés de uma ficção.
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2 comentários:
A câmera aproximada, os comentários (aparentemente) sem importância, a intimidade com os personagens (com as mulheres principalmente) me lembrou um pouco as coisas de Eduardo Coutinho, o bixo ainda hj é escola pra muita gente. Falando em mulheres, eu achei q deu destaque demais a vida conjugal, sei lá, achei q o lado artístico ia predominar, mas isso não chega a ser um problema. No mais é fuderoso. Aquelas gravações raras, e as cenas raras tb, chocante.
Eduardo Coutinho é mais "sério", por assim dizer. Nas entrevistas dele os personagens ficam à vontade, mas é espontâneo. É uma coisa de dentro pra fora. O mérito tá na identificação desses personagens e na habilidade de deixa-los à vontade. Sem falar que sao anonimos.
Em Raul, essas atuaçoes sao dirigidas, sao de fora pra dentro, começam com os diretores. E esse trabalho eh facilitado pq essas pessoas sao famosas, ou seja, acostumadas a dar entrevista e tal. Tanto q as entrevistas q sao convencionais, nao têm pagaiada, sao as de pessoas "comuns", como a empregada dele.
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