Tô lendo Agosto, de Rubem Fonseca, e dei uma olhada em trechos da adaptação para a TV (minissérie) que a Globo fez em meados dos anos 90. A série é "fiel" e bem feita, com um ritmo pausado que dificilmente seria aceito hoje em dia. No entanto, ainda deixa muito a desejar em profundidade em relação ao romance. Que é o que normalmente se diz de adaptações de livros para os meios audiovisuais em geral.
Mas parece que Almodóvar consegue superar isso. Não estou falando de adaptações, é que seus filmes lembram livros, no bom sentido (se é que há um mau). É um escritor que filma. Ou alguém duvida que Fale com Ela, por exemplo, não daria um belo livro?
Ele nos proporciona, com imagens, a sensação de que estamos lendo. Ao ver seus filmes não me divirto apenas, penso; não sou entretido, sinto. Ele me emociona sem apelar e sem abrir mão de discussões de altíssimo nível - estéticas (há muita metalinguagem no seu cinema) e filosóficas - Almodóvar consegue ousar passando ao largo de polêmicas; não perde o tom.
Marco, um dos protagonistas de Fale com Ela, sempre chora ao presenciar algo bonito por não poder compartilhar aquele momento com a ex-mulher. Quer algo mais anticlichê para falar de saudade? Almodóvar também escreve diálogos como poucos. E ele não tem pressa, apesar de ser muito lembrado pelo frenesi presente especialmente em seus primeiros filmes. Ele nos transforma em voyeurs de detalhes, como só alguém que gosta muito de gente é capaz de fazer. Processos rotineiros são mostrados em seus mínimos detalhes e praticamente em tempo real - uma toureira se vestindo, enfermeiros fazendo a higiene da paciente em coma. Como nas descrições dos melhores romances realistas.
13.3.12
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