"Ação entre amigos" é o melhor policial de Beto Brant, superando "Os matadores" e o badalado “O invasor”.
O filme tem um ritmo impressionante. São 75 minutos sem vontade de piscar. Além de intenso, o roteiro é bem amarrado, conta as histórias dos personagens sem deixar buracos e sem demorar mais do que deve. É mais ou menos o que Jean-Claude Bernardet elogiou no recente cinema argentino e que eu citei num post anterior (e como eu sou bonzinho volto a fazê-lo agora): “Não há necessidade de longas explicações para justificar as ações dos personagens. Breves anotações, como a expressão facial de um personagem, permitem acompanhar fluentemente a ação, compreender, e se emocionar com o quadro afetivo dos personagens e as relações entre eles, sem demora”.
Falando em roteiro, Brant o escreveu, pra variar, junto com Marçal Aquino. Este é o autor do argumento, que conta a história de um ex-militante de esquerda que busca vingança contra seu torturador. O filme tem bem a estrutura policial das parcerias Brant-Aquino e um quê dos justiceiros de faroeste obstinados por vingança. Aliás, a montagem paralela passado-presente empregada no filme é similar a de "Era Uma Vez no Oeste", de Sergio Leone.
Mas nem tudo são qualidades. Os atores que interpretam os personagens nos anos 70 deixam um bocado a desejar. Já os que fazem o quarteto de amigos no presente, só macacos velhos, seguram a onda.
Brant tem uma boa noção de ritmo e faz com a câmera o que quer. Mas ele tropeça na direção de atores e na sintonia com outros aspectos da produção. Talvez seja um pouco de inexperiência, talvez seja grana curta, mas há uma cena no início, por exemplo, que eu classificaria como uma soap opera made in URSS. Trata-se de uma discussão de casal sobre o que seria mais importante: abandonar a causa socialista e constituir família ou insistir na causa revolucionária. Nessa seqüência tudo é muito ruim: atuações, diálogos e até a cenografia.
Mas há uma virada surpreendente no final – tanto na história quanto na qualidade.
Quanto aos outros citados no primeiro parágrafo, "Os Matadores" também tem qualidades. E d'O Invasor eu não gosto de quase nada. Depois dele o cineasta paulista pariu "Crime Delicado" e "Cão sem dono", que passa em Recife daqui a 10 dias, concorrendo no Cine PE.
A crítica em peso festeja o cara. "Invasor" foi considerado o melhor filme da Retomada e foi premiado em Sundance. Segundo o IMDB, Brant é "Considered one of the most talented rising Brazilian directors." Eu não duvido nada de o outro ser Cláudio Assis.
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Um comentário:
Eu soube que o novo filme de Cláudio Assis foi bem comentado num festival de cinema latino americano que houve faz pouco tempo na França.
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