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3.4.07

Revi Ilha das flores várias vezes ultimamente. Não há dúvida: obra-prima. Apropriamento impecável do formato curta-metragem: não é uma piadinha, não é um experimental bicho-grilo, não é um longa comprimido. Uma história contada exatamente no tempo que devia ter: 12 minutos. E provocações pra uma vida inteira. Não é à toa que Jorge Furtado até hoje faz dinheiro com o filme e ainda é reconhecido como “o diretor de Ilha das Flores”, mesmo trabalhando na Globo e tendo realizado longas como Meu tio matou um cara e O homem que copiava.
O curta tinha tudo pas ra passar batido. Se Porto Alegre ainda hoje é uma fronteira incipiente do cinema brazuca, imagine em 89. Furtado era um ilustre desconhecido de 30 anos de idade, que havia largado a medicina e artes plásticas (“fiz vestibular para jornalismo. O curso mais próximo de cinema que existe por aqui”).
“Ilha” é um exemplo bem-sucedido e não-panfletário da filosofia “não sabia que era impossível, foi lá e fez”. Os toscos efeitos de computador se adequam perfeitamente ao filme. Muito melhor do que se fossem utilizados os softwares poderosos de hoje. Muito melhor do que as animações de Allan Sieber para o “O homem que copiava”. A montagem de Giba Assis Brasil é ágil quando precisa ser e tem suas pausas, seus silêncios e suas câmeras-lentas quando a ênfase pede, sem forçar barra. Os efeitos sonoros também são um dos trunfos do filme. A escolha de O Guarani, de Carlos Gomes, se deve não só pelo clima épico que evoca como é também tema do programa oficial A Voz do Brasil. Mais uma sutil sacada de Furtado. O trecho da ópera tocado (apenas por guitarra) no final, associado ao poema de Cecília de Meirelles, narrado por Paulo José, enquanto são mostradas cenas das pessoas no lixo em slow motion, causam um efeito devastador em quem assiste.
Um exemplo que dá uma boa noção da precariedade da produção: “a fábrica de perfumes” mostrada no filme é na verdade o laboratório de um colégio!
Outro dia ouvi dizer que o maior plano do filme tem 15 segundos porque ele foi todo rodado com pontas de negativos doadas pela Kodak. Segundo Luciana Tomasi, produtora executiva, o filme custou o que hoje seria equivalente a 15 mil reais. Quer mais estética da fome do que isso?
É por tudo isso que toda vez que se ouvisse alguém reclamar que não filma porque não tem dinheiro nem padrinho, que é impossível fazer cinema fora do eixo Rio-São Paulo, alguém deveria indagar: “ei, e Ilha das Flores?” E eu nem vou falar nas facilidades que não existiam na época porque aí já seria humilhação.

Continua.

6 comentários:

tautologico disse...

Tem link pra ver na internet?

Bruno R disse...

com certeza, andrei. tenta o porta-curtas ou algo assim. tu nunca viu ou quer rever?
ah, sim, eu vou fazer uma copia pra mim depois. qualquer coisa..

vou fazer a festa com aquele acervo do sesc!

tautologico disse...

Tem no youtube em duas partes:

Parte 1
Parte 2

tautologico disse...

Aliás, repeti. Aqui o certo:

Parte 2

tautologico disse...

Também tem no Google Video, completo em uma parte, e quem tem o Google Video Player instalado pode baixar em resolução mais alta.

Link

Anônimo disse...

acervo sesc? hum... isso deveras me interessa.

viu o inter desclassificado no gauchão? que vexame, que vexame... e não tá longe de cair tbm na libertadores.