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28.12.07

Vi, enfim, Tropa de Elite. Do espinhoso debate moral, opto por me esquivar. Como obra de arte, achei superestimado. A estrutura narrativa lembra DEMAIS Cidade de Deus, embora a fórmula não se mostre tão bem sucedida. O filme tem problemas de roteiro e direção, inclusive de atores. Raros são os momentos que o diretor consegue extrair espontaneidade do elenco. Um deles é a cena em que o capitão Nascimento está reunido com seus colegas analisando os inscritos para o treinamento. No mais, há muito esquematismo. Quando começa a tocar aquela cuíca você já percebe que um policial vai fazer alguma falcatrua. Padilha e sua equipe entendem que para o espectador acreditar que um PM é corrupto ele tem que ter pinta de malandro, malemolência e estar sempre comendo.

22.12.07

Comece por aqui

Obra de crítico da Folha voltada para público leigo estimula uma atitude reflexiva diante do que se vê na telona

Cada livro da coleção História em Aberto analisa um grande acontecimento histórico, como a Revolta da Vacina, a Semana de 22 ou os Grandes Descobrimentos. A editora Scipione resolveu colocar a sétima arte nessa história e daí surgiu "Cinema – O Mundo em Movimento", de Inácio Araújo.
O autor opta por não fazer uma "história do cinema", narrando suas transformações numa ordem cronológica. Em vez disso, explica o que é roteiro, decupagem, montagem, continuidade, direção, direção de fotografia, enfim, todos os elementos que compõem um filme.
Entretanto, ele tece breves apontamentos sobre os principais movimentos e escolas que marcaram a trajetória do cinema no mundo, e que fizeram da despretensiosa invenção dos irmãos Lumière um meio massivo de comunicação, com alto grau de refinamento. Para auxiliar a leitura, há ilustrações, citações, exemplos e trechos de outros livros sobre o tema.
Enquanto crítico, Inácio Araújo faz questão de apontar os fatores que fizeram de alguns cineastas figuras imortais. Alfred Hitchcock, por exemplo, teve o mérito de se apossar com maestria da chegada do som ao cinema, enquanto alguns grandes estúdios ainda torciam o nariz para a novidade.
A linguagem é simples e didática, apropriada para o público-alvo da coleção – os jovens. Cinema – O Mundo em Movimento é ideal para quem quer começar a ver o cinema "por dentro", como explica o autor no seguinte trecho:

Se não temos idéia de quantas vezes um diretor coça a cabeça em busca da melhor solução, ou antes de escolher um cenário, de achar a maneira como vai distribuir os atores em cena ou achar a posição de câmera mais conveniente para o desenvolvimento da ação, dificilmente conseguiremos captar o trabalho que temos diante de nós (e que tantas vezes parece tão simples de obter). Diremos 'gosto' ou 'não gosto' - mas sem entendermos o que realmente foi feito e o que o filme está tentando nos mostrar. Não saberemos sequer se foi bem-feito ou não.

ARAUJO, Inácio. Cinema: O Mundo em movimento. Col. História em Aberto. São Paulo: Scipione, 1995, 103 págs.

15.12.07

A maldição do curta

O paulista Philippe Barcinski ganhou notoriedade com seus curta-metragens. É dele o impressionante "Palíndromo", vencedor do Festival de Gramado de 2002. Ao dirigir seu primeiro longa, porém, o realizador se mostra pouco à vontade, num filme arrastado, como se o roteiro brigasse com o fato de ter 100 minutos de duração. Os dois núcleos da história não se comunicam entre si, o que faz parecer que Barcinski pegou dois roteiros de curta pra fazer Não por acaso.
A primeira metade do longa é de dar sono. A história só ganha alguma pegada com a entrada em cena de duas personagens femininas - uma na vida de cada protagonista: o engenheiro circunspecto vivido pelo (excelente) Leonardo Medeiros e o marceneiro e jogador de sinuca interpretado por um preguiçoso Rodrigo Santoro.
Apesar dos bons nomes, há desequilíbrio no elenco. A tarimbada Cássia Kiss tem uma atuação afetada em sua pequena participação. Letícia Sabatella pena com uma personagem mal-ajambrada e caricata (executiva fria, estressada e fumante). Só Leonardo Medeiros está bem e sua relação com a filha rende os melhores momentos do longa.
Medeiros é um dos atores que mais têm feito cinema ultimamente no país. Depois de um longo ocaso após Lavoura Arcaica, ele esteve em "O veneno da madrugada", "Cabra Cega", "O cheiro do ralo" e agora em "Não por acaso". Se fosse criado o "Prêmio Selton Mello de onipresença", o ator estaria no páreo.
Outra ponto discutível são os efeitos visuais, de qualidade e necessidade duvidosas. Em resumo: "Não por acaso" tem alguns bons momentos que, reunidos, dariam um curta interessante.


Sinceramente, não sei o que dizer de Nina. É um filme estranho. Não necessariamente ruim. A velhinha (Myriam Muniz) é a coisa mais assustadora que lembro de ter visto no cinema pátrio. Não sei mais do que gostei. Sei do que não gostei: Guta Stresser a as cenas de festa.


O blog anda mais verde e amarelo do que nunca. As duas linhas para "Planeta Terror" é a única exceção deste segundo semestre.

6.12.07

Surf com cérebro

A briga dos canais abertos agora à noite foi feia. A Globo apostou em Closer, A Record exibiu Crash, enquanto a Band jogou as fichas no documentário Surf Adventures. Tudo praticamente no mesmo horário. Optei por este último, primeiro porque ainda não o tinha visto e segundo porque tanto Closer quanto Crash não me despertam vontade de rever. E não é todo dia que temos a oportunidade de assistir um filme nacional no horário nobre de uma TV aberta.
E não é que o filme é bom? O documentário roda o mundo, mostrando tanto paisagens quanto tubos maravilhosos. Quando bem filmados, poucas coisas são tão bonitas quanto surfistas deslizando em ondas de 15 metros. Destaque para a trilha sonora. A Raimundos, Charlie Brown e o Rappa se juntam Cássia Eller, Jorge Ben e até Mutantes!
Quando o filme passou no cinema, eu nem dei bola. Puro preconceito. Surf Adventures é irado.

4.12.07

Relaxa e goza

Do primeiro ao último fotograma, Planeta Terror lembra um Drink no Inferno. Só que, ao contrário deste, não se leva a sério. É o que salva.

31.10.07

Dom, Maria, Mãe do filho de Deus, Trair e Coçar... Moacyr Góes é certamente um dos cineastas que mais tem trabalhado no Brasil e um dos mais vistos. Mesmo assim, nunca ouvimos falar dele. Por quê?
Góes é aquele diretor que não tem um estilo, projetos próprios, mas um certo talento, uma polivalência, uma vocação para fazer qualquer coisa com eficiência e sem grandes aspirações artísticas. Atualmente está em cartaz com O Homem que Desafiou o Diabo. Não li o que se escreveu sobre o filme, mas se algum desavisado esperava ver cinema-como-arte, vai se decepcionar.
É um filme que tem como meta fazer rir (e consegue), conseguindo no meio do caminho alguns outros méritos: a direção de arte que remete ao hiperbólico universo do cordel, ou o elenco razoavelmente bem equilibrado. O naturalismo passa longe, mas o tom teatral dos atores não prejudica em nada o filme, pelo contrário. O sotaque também não dói nos ouvidos. Não senti os atores forçando a barra, como vimos não apenas na TV como inclusive em filmes recentes como A Máquina.
Pode-se criticar a falta de ambição estética, o conservadorismo dos enquadramentos, mas como entretenimento não há como dizer que o filme não é bem sucedido. Essa pornochanchada despretensiosa e divertida certamente vai ser muito reprisada na Globo e sua bilheteria está sendo prejudicada visivelmente pelo fenômeno Tropa de Elite. Mesmo assim, a sessão que eu fui tava cheinha.


Se Moacyr Góes não tem uma "marca", Ricardo Elias é exatamente o oposto. Os 12 trabalhos é o segundo longa do cineasta paulista. Mais do mesmo: em muitos aspectos os 12 trabalhos lembra o primeiro, De Passagem. O foco é sempre o preconceito social e racial em São Paulo. Os filmes do diretor são painéis geográficos e sociais da metróple, sem o tom caricatural com que normalmente são representados os moradores de favelas no cinema.
Em De Passagem, temos um ex-morador da periferia que, ao se tornar policial, não se sente mais à vontade entre seus pares. Em os 12 trabalhos, Elias nos apresenta a rotina do motoboy, personagem que se tornou figura onipresente na paisagem da cidade, e o quão infernal pode ser sua vida, principalmente quando se é negro, favelado e ex-interno da Febem...
O cineasta filma a vida em trânsito. Em De Passagem, mais da metade do filme se passa dentro ou em estações de metrô e ônibus. Em Os 12 Trabalhos, o protagonista Eracles nos leva pra passear por São Paulo na garupa de sua moto. Não a São Paulo do Parque do Ibirapuera ou Avenida Paulista; mas uma cidade estressante, onde a correria, a pressa, a convivência forçada entre as classes sociais escancara e atiça os preconceitos e todos acabam perdendo.
Ambos os filmes se baseiam em apenas um dia na vida dos protagonistas. Um dia é o suficiente pra mudar sua vida completamente. Ou não. No início de Os 12 Trabalhos, Eracles diz que "dependendo de onde você nasceu, já é. Sua vida já tá escrita". Para quem nasce na favela, como ele, ou você se torna policial, ou bandido, ou motoboy, ou camelô. Em uma cena divertida do filme, os colegas de trabalho de Eracles invejam o sucesso de um... vendedor de cachorro-quente: é o auge de suas pretensões.

29.8.07

Tenho dado sorte com os últimos filmes nacionais que vi. Literalmente, é um melhor do que o outro, já que, se "Cabra-Cega" é bom, "O Cheiro do Ralo" é divertidíssimo e "Cão sem dono" é um filmaço.
Bom, já que de "Cabra-Cega" eu falei anteriormente, passemos aos dois últimos.

"O Cheiro do Ralo" é um filme que custou 300 mil reais, uma quantia absurdamente baixa. Tem curta por aí que se gasta metade disso. "Cidade de Deus", para se ter uma idéia, consumiu 10 milhões. Muitas vezes o diretor ou alguém da produção, pra justificar alguma deficiência, reclama que faltou dinheiro pra fazer como queria (e algumas vezes isso é verdade). Mas há quem saiba driblar essas carências com maestria. Já falei aqui que "Ilha das Flores" foi feito com algo em torno de 12 mil reais. E é considerado por muita gente o melhor curta brasileiro de todos os tempos.
Porém em o "Cheiro do Ralo" Heitor Dhalia e sua equipe não podem reclamar de falta de dinheiro. Ele também não teve que usar a criatividade pra compensar um orçamento curto. Simplesmente o filme não precisa. Tive a sensação que ali nada sobra e nada falta. O longa é simplesmente uma boa história e um elenco inspirado. Precisa mais?
É incrível como Selton Mello ainda consegue surpreender. Aqui ele compõe um personagem absolutamente diferente de tudo o que já fez. Por mais que estejamos acostumados em vê-lo nas telas de diferentes tamanhos, sua persona não fica saturada.
Outro detalhe que chama atenção é que o "Cheiro" consegue passar ao largo de tudo o que o cinema brasileiro tem procurado abordar ultimamente (ou desde sempre), como violência urbana, personagens marginais, regionalismo ou crítica social seja qual for o naipe. É uma adaptação, mas ao invés de optar por um nome consagrado, como Daniel Filho faz agora com Eça de Queiroz, ou como o Próprio Dhalia fez anteriormente transpondo "Crime e Castigo" para a tela, o cineasta pernambucano se inspirou no romance homônimo de Lourenço Mutarelli, que também é quadrinista e com quem o diretor já trabalhara em "Nina".
O filme é intencionalmente universal. Há poucas referências de lugar e espaço. Uma delas é quando o protagonista passa caminhando em frente à fachada do estádio do Juventus, na Móoca. Podia ser o Pacaembu, o Morumbi, mas não; é a sede do "moleque travesso" da Rua Bariri. Isso te diz alguma coisa?

"Cão sem dono" também é uma história essencialmente universal. E também adaptado de um escritor da nova geração, Daniel Galera.
Nem parece que é um filme de Beto Brant. Não há um elogio ao banditismo romântico como em "Os matadores"; a crítica à classe média de "O Invasor" ou uma reflexão em torno de um "grande tema", como o desejo de vingança presente em "Ação entre amigos". O filme, ainda bem, não é policial. O horizonte temático é sabiamente modesto. O número de personagens é reduzido e é torcer para que os atores (todos desconhecidos) se garantam. E eles sobram. O naturalismo que era apenas pretensioso nos outros filmes de Brant aqui dá gosto de ver. Os personagens parecem estar transando quando transam, parecem estar chapados quando fumam, parecem bêbados quando bebem; a família parece uma família e ninguém venha me dizer que aquele porteiro não é de fato um porteiro que eu vou dizer que é mentira... E tudo temperado com saborosos diálogos ao molho Tarantino.

18.8.07

Thiago é um militante ferido em combate com a polícia que é escondido em um apartamento de um colega. Ali se passará uns 80% das cenas de Cabra-Cega, o que dá um boa idéia do que o isolamento, agravado pelo medo de ser descoberto e pela desconfiança em relação aos seus pares, pode fazer à cabeça do sujeito. Nesse ambiente claustrofóbico Thiago, vivido pelo bom Leonardo Medeiros, também travará amizade (ou um pouco mais do que isso) com Rosa, militante designada para cuidar dele, e com a vizinha espanhola que perdera um filho na guerra civil de seu país.
Dona Nenê, por sinal, é um personagem secundário interessantíssimo. A ternura dela para com Thiago, causada um tanto pela solidão de viúva recente e outro pela lembrança do filho morto, também um revolucionário, vence a credulidade de Thiago, dono de um coração enrijecido pela luta política. Aliás, em certo momento ele confessa a Rosa: “na economia só tinha homem, em Cuba também, acho que perdi o jeito (com mulheres)”.
Em relação à guerrilheira que, ao contrário do protagonista, não conseguiu escapar à prisão, o roteiro tem furos. Sabe-se apenas que ela foi torturada e depois reaparece com os guerrilheiros: ela não os entregou. O.K., mas os milicos soltaram ela na boa? Ela fugiu? Foi libertada como resgate? E que relação ela tinha com o protagonista? Só companheira? Namorada? Esposa? Não sabemos. Pela relativa importância que possui na trama, são questões que merecem respostas.
Também são discutíveis o previsível encaminhamento da relação entre Thiago e Rosa, que apesar dos temperamentos opostos, da rudeza dele e tudo o mais, é de imaginar que eles vão terminar tendo um caso: o que acontece de fato; assim como a forçada tentativa de levar o espectador a achar que Pedro, o dono do apartamento, traiu Thiago e os outros membros do grupo: o que não acontece - propiciando um final harmonioso e “imprevisível”.
Mas talvez eu esteja sendo exigente demais, e até com um pouco de má fé. A verdade é que o longa de Toni Venturi conseguiu me emocionar, ajudado pela excelente trilha sonora (canções da época rearranjadas e interpretadas por Fernanda Porto).

21.7.07

Pra não deixar o blog morrer de inanição, duas palavrinhas abalizadas de Braulio Tavares sobre ilusão e verossimilhança:

"O cinema é o ponto perfeito da ilusão. Se fosse menos bem-feito, ninguém seria convencido a acreditar. Se fosse mais bem-feito do que é, ficaria tão parecido com o Real que começaríamos e bocejar e bateríamos em retirada. Do jeito que existe até hoje, ele se mantém tremeluzindo no espaço como uma película translúcida por onde perpassa um mundo maior, mais vivo e mais carregado de energia vital do que o nosso. E para fazer brotar esse Mundo De Lá o mundo de cá não mede esforços."

"A ilusão cinematográfica é uma película tênue como bolha de sabão. A menor inverossimilhança pode fazê-la espoucar para sempre, e puxar o espectador, como um elástico super-esticado, de volta para a poltrona, num repelão brusco que parte a sua fantasia em milhões de fragmentos."

25.5.07

O avanço da pirataria

A partir de hoje, 15 das 17 salas de João Pessoa estarão ocupadas por Homem-Aranha (6) e Piratas do Caribe (9).

15.5.07

“Los documentales más importantes, como sucede también en el cine de ficción, requiren una historia de certa calidad, com personajes interesantes, tensión narrativa y un ponto de vista integrado” (Michael Rabiger, Dirección de documentales)

O que difere a linguagem do documentário de cinema do documentário televisivo é questão das mais delicadas e polêmicas. Em geral observa-se o caráter autoral dos documentaristas-cineastas. Eduardo Coutinho, por exemplo, gosta de deixar as perguntas aparecerem no filme, além de mostrar as câmeras e como se deu o processo das entrevistas.
Paulo Sacramento, em “O prisioneiro da grade de ferro” entregou a câmera aos detentos do Carandiru para que eles próprios registrassem a si e a seus pares. Depois disso, todo mundo saiu copiando a idéia.
Já o documentário televisivo tende a ser limpo, objetivo, sem “estilo”.

Nesse Cineport eu pude ver dois documentários bem representativos no que se refere à abordagem. “Cartola”, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, é fruto basicamente de pesquisa e montagem. As entrevistas feitas para o filme e os depoimentos de Cartola selecionados são vassalos do senhor Roteiro.
O pulo-do-gato da produção é que os diretores não se limitaram a ir atrás de imagens de arquivo apenas do homenageado. Há cenas de cinejornais ou televisão mostrando eventos marcantes da história brasileira e mundial recente, como a segunda guerra e a ditadura militar e, o que eu acho a grande sacada do filme, trechos de filmes nacionais ilustrando fatos da vida de Cartola. Tem de Oscarito a Júlio Bressane, passando por Carmem Miranda. O filme é um casamento da música brasileira com o cinema brasileiro. E com final feliz.

“O Senhor do Castelo”, dirigido e montado por Marcus Vilar, é coerente com a obra do cineasta: muita correção e pouca ousadia. O filme passa por todas as fases e obras significativas do escritor, pontuadas por entrevistas e trechos das famosas "aulas-espetáculo", colhidos ao longo dos últimos 15 anos.
“O Senhor do Castelo” é um caso raro de documentário de longa-metragem onde praticamente apenas uma pessoa é entrevistada. Sendo assim, Marcus evita polêmicas ao deixar que o espectador conheça apenas a visão de Ariano sobre os controvertidos eventos da Revolução de 30, que vitimou o pai do escritor, e a respeito das suas posições em defesa da “verdadeira cultura brasileira”, consideradas xenófobas por alguns.
Vilar evita até mesmo chamar a capital de João Pessoa, nos créditos. O título do documentário é bem significativo. Ariano é o senhor do filme.
“O senhor do castelo” é uma espécie de cinebiografia autorizada. O que, vejam bem, não significa que não seja interessante de ver (e ouvir). Esse paraibano octogenário é um personagem interessantíssimo, revelando, inclusive, um senso de humor surpreendente.

24.4.07

Há alguns dias assisti no Curta Brasil "O Filme do Filme Roubado do Roubo da Loja de Filme", um vídeo de qualidades tão grandes quanto o nome.
Primeiro chama atenção a estética. O Filme tem um breve prólogo, com uma mini dv simulando uma câmera de segurança, e todo o resto é filmado com a câmera de um celular, que seria de um dos assaltantes que é incumbido pelo líder do grupo de registrar a ação. Trata-se de um recurso curioso de um ator acumular a função de cameraman. Vale destacar ainda que todo o assalto é filmado em um único plano-seqüência que dura vários minutos - do contrário soaria fake e o filme não funcionaria.
No elenco, Leandro Firmino (o Zé Pequeno de CDD) e Natália Lage, interpretando eles mesmos. O inusitado de ver "Zé Pequeno" acuado, na posição de vítima, é um acerto a mais da produção. Os atores que fazem os bandidos são do grupo "Nós do Cinema", o que é garantia de excelentes atuações. A cada dia esse grupo me encanta mais.
A direção e o roteiro são de Paulo Silva, Júlio Pecly e Marcelo Yuka, o inquieto ex-baterista do Rappa que ficou paraplégico e tal. "O Filme do Filme Roubado do Roubo da Loja de Filme" é apresentado como "o primeiro curta do movimento Companhia Brasileira de Cinema Barato". Esse é o único detalhe que me causa estranheza. Que mania é essa de manifesto, de revolução? Parece que o Dogma continua a gerar descendentes.
Bem, só sei que o curta, pretensioso ou não, é forte candidato a cult.

20.4.07

3 razões para não gostar de 300

Um discurso vazio sobre liberdade, um monte de contradições internas e um Rodrag Santoro com voz de Darth Vader e trejeitos de Vera Verão.

17.4.07

"Ação entre amigos" é o melhor policial de Beto Brant, superando "Os matadores" e o badalado “O invasor”.

O filme tem um ritmo impressionante. São 75 minutos sem vontade de piscar. Além de intenso, o roteiro é bem amarrado, conta as histórias dos personagens sem deixar buracos e sem demorar mais do que deve. É mais ou menos o que Jean-Claude Bernardet elogiou no recente cinema argentino e que eu citei num post anterior (e como eu sou bonzinho volto a fazê-lo agora): “Não há necessidade de longas explicações para justificar as ações dos personagens. Breves anotações, como a expressão facial de um personagem, permitem acompanhar fluentemente a ação, compreender, e se emocionar com o quadro afetivo dos personagens e as relações entre eles, sem demora”.

Falando em roteiro, Brant o escreveu, pra variar, junto com Marçal Aquino. Este é o autor do argumento, que conta a história de um ex-militante de esquerda que busca vingança contra seu torturador. O filme tem bem a estrutura policial das parcerias Brant-Aquino e um quê dos justiceiros de faroeste obstinados por vingança. Aliás, a montagem paralela passado-presente empregada no filme é similar a de "Era Uma Vez no Oeste", de Sergio Leone.

Mas nem tudo são qualidades. Os atores que interpretam os personagens nos anos 70 deixam um bocado a desejar. Já os que fazem o quarteto de amigos no presente, só macacos velhos, seguram a onda.

Brant tem uma boa noção de ritmo e faz com a câmera o que quer. Mas ele tropeça na direção de atores e na sintonia com outros aspectos da produção. Talvez seja um pouco de inexperiência, talvez seja grana curta, mas há uma cena no início, por exemplo, que eu classificaria como uma soap opera made in URSS. Trata-se de uma discussão de casal sobre o que seria mais importante: abandonar a causa socialista e constituir família ou insistir na causa revolucionária. Nessa seqüência tudo é muito ruim: atuações, diálogos e até a cenografia.

Mas há uma virada surpreendente no final – tanto na história quanto na qualidade.
Quanto aos outros citados no primeiro parágrafo, "Os Matadores" também tem qualidades. E d'O Invasor eu não gosto de quase nada. Depois dele o cineasta paulista pariu "Crime Delicado" e "Cão sem dono", que passa em Recife daqui a 10 dias, concorrendo no Cine PE.

A crítica em peso festeja o cara. "Invasor" foi considerado o melhor filme da Retomada e foi premiado em Sundance. Segundo o IMDB, Brant é "Considered one of the most talented rising Brazilian directors." Eu não duvido nada de o outro ser Cláudio Assis.

9.4.07

Estrada para Perdição

Como é subestimado esse filme de Sam Mendes! Após os elogios e os Oscars de Beleza Americana, “Estrada” passou quase despercebido. E o engraçado é que mesmo contando com um estreladíssimo elenco, os atores são o de menos.
O filme começa patinando, mas quando você menos espera já não consegue parar de assistir (e olhe que vi o filme às 2h da manhã). Depois volta a patinar mas a seqüência-clímax é de de arrepiar, provando o talento de Mendes. Os atores, apesar de monstros, estão um tanto apagados.
O personagem principal é Michael Sullivan, extremamente bem escrito, o que compensa o fato de Tom Hanks não ser o melhor intérprete para o papel do mafioso “bonzinho”. Já o de Jude Law, assassino contratado para dar cabo do protagonista, fica boiando na história. Paul Newman e Daniel “007” Craig estão um pouco caricatos demais. E o pirralho que faz o filho de Sullivan não tem, digamos, empatia. Mas o roteiro e a excelente direção seguram a onda. Filme de gângster de primeira linha.

6.4.07

Continuando:

Ilha das Flores ganhou o Urso de Prata em Berlim e outras dezenas de prêmios pelo Brasil, França, Estados Unidos.
Mas o que explica tanto interesse por um curta sobre um lixão de Porto Alegre? Além disso, “Ilha” tem elementos datados, como anúncios publicitários da época e referência ao acidente com o Césio 137 em Goiânia. Sem falar nas muitas referências que passam despercebidas para quem é gringo.
Uma palavra explica o sucesso da obra: abordagem. Ou, em português mais claro: roteiro. Furtado se recusou a fazer um documentário convencional. Com a palavra, o diretor: “Acho que o impacto do filme está, em primeiro lugar, em ser baseado em fatos. Ele pega emprestado a força do documentário. Em seguida, na linguagem, na vertigem do texto e das imagens, com estranhas associações que, de certa forma, hipnotizam o espectador. Em terceiro, no humor, que induz o espectador a se aproximar de um assunto que, a princípio, o afastaria. Em quarto, pela aparente banalidade das informações que constroem a complexidade da trama.”
Linguagem, humor, complexidade. O diretor simplesmente rejeitou a idéia de fazer um doc na escola francesa de cinema-verdade ou dentro do “cinema direto” dos americanos. Furtado também teve a felicidade de não fazer um registro panfletário ou sensacionalista. Ainda inventou uma forma de narrar. Nota-se o quase médico no tom pseudocientífico do texto em off e o quase artista plástico nas muitas colagens.
Ilha das flores é o produto de um cineasta questionador, inconformado, renovador. Se por um lado ele projetou seu diretor, por outro, é uma maldição. Jorge Furtado hoje é do mainstream, e mesmo fazendo coisas até interessantes, nunca mais ele chegará sequer perto do brilhantismo de “Ilha”. O conceito de obra-prima anda desgastado, mas em Ilha das Flores ele se enxaixa perfeitamente, no seu sentido original: obra-maior. O resto é o resto.

3.4.07

Revi Ilha das flores várias vezes ultimamente. Não há dúvida: obra-prima. Apropriamento impecável do formato curta-metragem: não é uma piadinha, não é um experimental bicho-grilo, não é um longa comprimido. Uma história contada exatamente no tempo que devia ter: 12 minutos. E provocações pra uma vida inteira. Não é à toa que Jorge Furtado até hoje faz dinheiro com o filme e ainda é reconhecido como “o diretor de Ilha das Flores”, mesmo trabalhando na Globo e tendo realizado longas como Meu tio matou um cara e O homem que copiava.
O curta tinha tudo pas ra passar batido. Se Porto Alegre ainda hoje é uma fronteira incipiente do cinema brazuca, imagine em 89. Furtado era um ilustre desconhecido de 30 anos de idade, que havia largado a medicina e artes plásticas (“fiz vestibular para jornalismo. O curso mais próximo de cinema que existe por aqui”).
“Ilha” é um exemplo bem-sucedido e não-panfletário da filosofia “não sabia que era impossível, foi lá e fez”. Os toscos efeitos de computador se adequam perfeitamente ao filme. Muito melhor do que se fossem utilizados os softwares poderosos de hoje. Muito melhor do que as animações de Allan Sieber para o “O homem que copiava”. A montagem de Giba Assis Brasil é ágil quando precisa ser e tem suas pausas, seus silêncios e suas câmeras-lentas quando a ênfase pede, sem forçar barra. Os efeitos sonoros também são um dos trunfos do filme. A escolha de O Guarani, de Carlos Gomes, se deve não só pelo clima épico que evoca como é também tema do programa oficial A Voz do Brasil. Mais uma sutil sacada de Furtado. O trecho da ópera tocado (apenas por guitarra) no final, associado ao poema de Cecília de Meirelles, narrado por Paulo José, enquanto são mostradas cenas das pessoas no lixo em slow motion, causam um efeito devastador em quem assiste.
Um exemplo que dá uma boa noção da precariedade da produção: “a fábrica de perfumes” mostrada no filme é na verdade o laboratório de um colégio!
Outro dia ouvi dizer que o maior plano do filme tem 15 segundos porque ele foi todo rodado com pontas de negativos doadas pela Kodak. Segundo Luciana Tomasi, produtora executiva, o filme custou o que hoje seria equivalente a 15 mil reais. Quer mais estética da fome do que isso?
É por tudo isso que toda vez que se ouvisse alguém reclamar que não filma porque não tem dinheiro nem padrinho, que é impossível fazer cinema fora do eixo Rio-São Paulo, alguém deveria indagar: “ei, e Ilha das Flores?” E eu nem vou falar nas facilidades que não existiam na época porque aí já seria humilhação.

Continua.

29.3.07

No universo nonsense dos quadrinhos de super-heróis americano, o Motoqueiro Fantasma é sem dúvida uma das criações mais surreais. Um Hell´s Angel no sentido literal.
Um personagem assim tinha tudo para dar um filme cool. E este que aí está o é. Ao menos em parte. Nicolas Cage contribui para isso, quando não se leva a sério; quando não atua. Quando não banca o herói atormentado e apenas se diverte em cena. Mesmo com um penteado esquisito pra disfarçar a calvície, é bom vê-lo em cena.
O problema do filme é simples. Uma produção como essa precisa arrecadar muito dinheiro. E pra se levar gente ao cinema tem-se que recorrer aquela formulazinha batida, de par romântico, de antagonistas odiosos etc. O Diabo é até interessante. Mas a história do tal do “Coração Negro” e seus anjos decaídos, que disputam com o Motoqueiro a posse de um contrato, soa totalmente estranho. Um reles pretexto pra cenas de confronto.
E Eva Mendes, tadinha, tão bonitinha, mas tão fraquinha...

25.3.07

Na nossa mania de bancar o colonizado revoltado, costumamos torcer o nariz para alguns blockbusters dizendo que eles fazem propaganda dos Estados Unidos. Eu senti isso em relação ao A Rainha, só que aqui, claro, a Grã-Bretanha é a exaltada, por meio da serenidade de Elizabeth II, do tino político e do equilíbrio de Tony Blair... Com a imagem arranhada pelo apoio à Guerra do Iraque, esse filme me parece ser isso: uma tentativa de elevar a auto-estima do britânico e melhorar a imagem do país e de seus líderes. Aliás, Stephen Frears titubeia, mas acaba ficando de bem tanto com a monarquia como com o primeiro-ministro. Todo mundo é bonzinho.
Eu imagino que para um britânico o filme tenha bastante apelo. Entendo perfeitamente sua curiosidade pela vida privada da discreta rainha e o desejo de revisitar criticamente o mito Diana. Mas e eu com isso? Pra mim essa história é tão interessante quanto seria para um inglês acompanhar Entreatos, de João Moreira Salles, que trata da campanha presidencial de Lula.
O filme é chato, é? Eu não recomendaria. Mas também não tenho motivos pra dizer que ele é ruim, à parte o fato de o diretor ficar em cima do muro, como já mencionei. Concordo com Inácio Araújo quando ele diz que A Rainha não é um “telefilme”. Aliás, na TV A Rainha seria mais sacal ainda... No mais, a montagem é feliz ao utilizar imagens de arquivo da TV da maneira e nos momentos certos e o elenco dá pro gasto. Helen Mirren de fato está muito bem. E o carinha que faz Tony Blair até convence, pelo menos quando não está tentando se parecer demais com o primeiro-ministro - o esforço que ele faz pra copiar o sorriso de Blair beira o ridículo.

P.S. Uma coisa que não vi ninguém mencionar é que o fotógrafo do filme é o brasileiro Affonso Beato, que já trabalhou com Almodóvar e com Walter Salles em Alma Negra.

8.2.07

Pra variar, Clint Eastwood é superestimado por seu mais novo trabalho, “A conquista da Honra”. Ricardo Calil: “Em fase gloriosa de sua carreira, o velho Clint faz um belo ensaio sobre o poder da imagem e a essência do heroísmo”.
Com a parte sobre o poder da imagem eu até concordo, o resto é balela. Tirando ‘Os imperdoáveis’, nunca vi algo muito bom do diretor.
Verdade que ele consegue tirar o que quer dos atores e sabe compor um plano – o da bandeira sendo erguida em um estádio pelos soldados, em uma das cerimônias para arrecadar bônus de guerra, é extraordinário. Por outro lado, há seqüências difíceis de engolir, como a dos canhões e metralhadoras dos japoneses sendo preparados para entrar em ação com uma música de suspense ao fundo. Lembra até Top Gang. E o final, que tem seu mérito por tentar evitar o famoso “Fulano virou isso e morreu disso, em tal ano”, é um pouco melodramático demais.
O fechamento da história, aliás, concentra a maior parte dos problemas do filme. É um arrastado que parece sem fim. O que talvez até faça muita gente ficar com a impressão que o filme é (todo) ruim. Não é.

Agora é esperar por “Cartas de Iwo Jima” e ver como Clint se sai contando o outro lado da história. Confesso que estou curioso.

Mais no 1/2 Boca

4.2.07

O desafio dos filmes adaptados de séries ou programas da TV Globo é oferecer algo diferente do que se vê no vídeo. A iniciativa às vezes funciona, às vezes não funciona. Geralmente não funciona.
Uma escolha óbvia nesse sentido é sair dos estúdios do Projac e respirar um pouco de ar. Cenas de rua, cenários que nunca apareceram na TV, cenas de estrada que de fato foram captadas em estradas e não com chroma key etc.
Mas no caso de A Grande Família o que mais me chamou a atenção é a adição de um elemento dramático ao tom cômico da série. Quem se aproveitou bem disso foi Marco Nanini, que compôs um Lineu tragicômico bem diferente do da TV. Os outros atores ficam na mesma. E o convidado Paulo Betti tem pouco brilho.
No geral, as piadas estão piores do que a média do programa. Tem até uma gagzinha escatológica bem ao gosto do pior humor hollywoodiano atual. O roteiro, meio pesadão, faz uma e hora e meia parece quatro.
Ponto positivo para a trilha sonora, com bregões estilosos, Jovem Guarda e Roberto Carlos.

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Um cara que reconhece um odor a quilômetros de distância. Parece ridídulo. Um serial killer que mata doces donzelas por uma razão aparentemente banal. Soa sádico e repugnante. Isso se não estivéssemos falando do habilidoso Tom Tykwer. Esqueça Corra, Lola, Corra. Com A Princesa e o Guerreiro e agora este Perfume, o alemão se afirma como um dos diretores mais interessantes do atual cinema europeu.

19.1.07

O filho pré-adolescente, cooptado pela guerrilha, aponta sua arma para o próprio pai, que tenta dissuadi-lo da insanidade que está prestes a cometer:
- Você é Dia Vandy. Em casa as vacas esperam por você. Sua mãe espera por você cozinhando bananas no dendê.
Essa fala é de Diamante de Sangue. Todo o filme é permeado por diálogos piegas e autoexplicativos, que às vezes fazem rir, mas quase sempre enchem o saco mesmo.
Dirigido por Edward Zwick, de O Último Samurai, o filme faz de tudo para tirar o máximo de ação ou suspense de cada cena, com longas seqüências de ação e violência espetaculosas.
É blockbuster em pele de filme engajado. Milimetricamente planejado pra agradar tanto aos brutamontes que querem ver ação quanto às moçoilas inocentes que acreditam na baboseira politicamente correta do discurso contra a compra de diamantes extraídos de zonas de conflito.

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O contador registra uma média de duas visitas por dia, incluindo as minhas. Portanto soa meio sem sentido dar algum aviso aqui e tal. Anyway, hoje estréia no Mag “O céu de Suely”, novo longa de Karin Aiñouz, de Madame Satã, estrelado pela belezinha Hermila Guedes e vencedor do último Festival do Rio. Precisa dizer mais?